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Assédio na comunicação resulta em pesquisa, filme e hackaton pelo Grupo de Planejamento

Por Flávia Hill
16/11/2017, 15h00

Durante o painel “E agora 3%?”, na Conferência do Grupo de Planejamento de 2016, que por meio de uma grade de conteúdo apresentou temas atuais e relevantes para o dia a dia, uma jovem questionou o que seria feito em relação ao assédio nas agências. A moderadora do painel, Ana Cortat, usou a pergunta para indagar aos presentes quem já tinha sentido na pele esta experiência. Praticamente todas as mulheres que estavam na sala se levantaram. O momento marcou a virada de uma chave. À partir daí um projeto começou a ser desenhado pelo Grupo de Planejamento de São Paulo - encabeçado por Renata d’Ávila, atual presidente do Grupo, e pelos conselheiros Ana Cortat, Ken Fujioka e Ulisses Zamboni.
No primeiro momento foi realizada a pesquisa "Hostilidade, silêncio e omissão: o retrato do assédio no mercado de comunicação de SãoPaulo", feita em parceria com o Qualibest, a fim de trazer em números a realidade de assédio moral e sexual no mercado de comunicação de São Paulo. O resultado do estudo respondido por 1.400 pessoas condiz com o recorte encontrado no painel em 2016. Segundo ele 90% das mulheres e 76% dos homens afirmam já ter sofrido assédio moral ou sexual no trabalho.
Para Ana Cortat não trata-se de olhar o passado e buscar culpados, mas sim “sobre de fato enxergar uma realidade e como enfrenta-la”. Cortat adiciona: “A gente quer usar os números para dar consciência da realidade para assim muda-la. Você não pode mudar uma realidade que não vê”.
O movimento condiz com uma das falas de Renata d’Ávila de que a gente precisa que o sistema comece a implementar mudanças. “Os líderes, nas suas mais diversas posições, precisam dar uma resposta ao momento que estamos vivendo criando sistemas de apoio para que as pessoas tenham menos medo. Assim, as situações hostis são diminuídas”, pontuou d’Ávila.
A necessidade do apoio por parte da chefia é necessário pela ocorrência sistêmica deste tipo de violência, mas não só por isso, já que sócios e presidentes são apontados como assediadores por 22% dos estagiários e assistentes. Diretores, principal interface senior com as equipes, surgem como os que mais afirmam ter sido assediados (83%), ao mesmo tempo que são citados como assediadores por 63% do total da amostra.
O ambiente é extremamente prejudicial para a saúde mental de quem sofre algum tipo de assédio. De acordo com o estudo, 62% das mulheres e 51% dos homens afirmam ter sofrido algum sintoma de saúde por causa de assédio moral. As pessoas indicam ter sofrido em média seis sintomas. Entre as mulheres, 75% afirmam ter sofrido crises de choro, 72% afirmam ter sofrido síndrome de ansiedade, 68% sentimento de inutilidade e 45% terem sofrido depressão. Entre os homens, 74% afirmam ter sofrido síndrome de ansiedade, 67% sentimento de inutilidade, 32% abuso de bebida alcoólica e 30% diminuição da libido. Do total dos respondentes que tiveram algum sintoma de saúde, 10% afirmam ter tido pensamentos suicidas.
E o RH, que deveria lidar com a situação, acaba sendo ineficiente e até mesmo inútil. Para o estudo, isso acontece porque o setor é visto como espaço não-aberto para esse tipo de reporte, ineficiente ou sem poder para solucionar casos dessa natureza. Apenas 12% das mulheres e 8% dos homens que sofreram assédio moral se sentiram à vontade para usar deste instrumento. Esses números caem para 3% e 7%, respectivamente, para casos de assédio sexual.
O segundo passo é baseado em engajamento. Nesta parte da campanha, diversas empresas do setor privado ou não, já apoiam a causa, sendo elas a ABAP (Associação Brasileira de Agências), a FENAPRO (Federação Nacional das Agências de Propaganda), Grupo de Atendimento, Grupo de Mídia, Clube de Criação, APRO (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais) e, claro, a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes).
Inclusive o presidente da ABAP, Mario D'Andrea afirmou que "a entidade já está apoiando um movimento geral da atividade para minimizar esse absurdo e trazer outras entidades à mesa".
A terceira parte do projeto trata-se da ação em si. O grupo realizará um hackaton no início de 2018 para criar soluções concretas e atacar esse problema: ferramentas, canais de denúncia, rede de apoio, entre outros. Quem tiver interesse em se candidatar vai ter que esperar por mais informações.
Para conferir todos os números da pesquisa clique aqui.
À partir da pesquisa um vídeo foi produzido com os relatos reais de quem sofreu algum tipo de assédio. O filme foi protagonizado pela atriz Clarisse Abujamra, a direção é de Ivy Abujamra e produção do Dogs Can Fly. Já a produção de som foi feita pela Alma 11:11.
Porque é sobre muito mais que números: é preciso criar soluções reais para dar fim a uma cultura de hostilidade, silêncio e omissão.

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